domingo, 1 de maio de 2011

À dama dos meus devaneios.

*

Deita, Dinamene minha
Adormece, meiga menina.
Encontra em mim teu bálsamo,
Faz de mim tua redoma,
Sê teus sonhos e delírios
Que eu divago nos teus lábios
De lírios.

- Tarda, amanhece, é dia:
Acordaste Dalila!
Deusa da minha libido,
Déspota dos meus desejos!
Desabrochaste demônia,
Ladra, dama desleal!

Busquei-te, e no desespero de vingar-me
Descobri-te Desdêmona:
Não me deixaste por deboche,
Mas por motivos que eu desconhecia!
Tarde demais, teu corpo indelével
Sob a minha lâmina jazia.
E teu definhar era tão pequeno
Quando comparado ao meu corpo decrépito
Que meu viver desatino
Encontrou o seu destino.

Por fim, tu que fora Dinamene, Dalila e Desdêmona
Era, em verdade, Diotima de Matinea.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Voltem, anos meus!
Que a noite é curta e logo se vai
Que a labuta é árdua e o suor cai
E já não possuo os prazeres seus.

Ah, como eu queria!
Um anoitecer que nunca acaba
Ser poesia na eterna madrugada
E ja não viver durante o dia

Realidade, o que fazes com os teus?
Suga-lhes a alma, amores e anseios
Dá-lhes misérias, culpas e receios!

Sejam rápidos, anos meus!
Que a noite ja está no fim
E a realidade espera por mim.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Certa vez te amei
– Era azul e tão lindo! –
Era parte de mim
Que com o tempo foi sumindo.

Tinha cheiro de café
E gosto do melhor sonho;
Tinha jeito de raio de sol
N’uma manhã gelada de outono.

Às favas com as rimas
Que já não me ocorrem mais.
N’outro dia me serviram um expresso:
Não tinham açúcar, só nostalgia.
E então eu era aquela menina
Sentada no centro da grande cidade;
Os carros corriam, as pessoas corriam
E eu ouvia estrelas sorrindo
N’uma manhã gelada de outono.

Preocupavam-me as coisas do amor
Como vivê-lo,
Como sabê-lo...
Mas as respostas que eu não tinha
Eram, afinal, a essência da pureza.

Bebi das suas palavras como se fossem fontes de vida.
Hoje, tanto tempo depois, descubro:
Talvez realmente o fossem.

Quis saber a cor da saudade
Mas os olhos marejam e a vista embaça
E tudo não passa de um borrão confuso!
Desespero-me:
O tempo de gigantes me consome, a vida passa
E aquele beleza tão ingênua já não me acompanha mais.

Certa vez te amei.
Amor por si só;
Amor sem face, sem toque, sem olhares.
Te amei pelas idéias, pelas palavras;
E não podia ser mais verdadeiro.

Hoje meus tempos são sombrios;
Achei ter esquecido seu encanto,
Mas a lembrança ainda me ocorre
E me traz lágrimas aos olhos
Nessa manhã gelada de outono.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Cantiga de Amigo*

Lua que de tão longe alumia
Vá-te embora, venha o dia
Que essa noite meu coração partia
Se somente cedo meu amigo via

Lua que de tão longe alumia
Nunca disseste que tão grande amor aqui cabia
Nunca disseste que mata a nostalgia
Se somente cedo meu amigo via

Lua que de tão longe alumia
Roga aos céus e à ventania
Que a aurora não sê tardia
Se somente cedo meu amigo via

Lua que de tão longe alumia
Se pudesse, já em meu leito dormia
Mas a noite nunca findaria
se somente cedo meu amigo via.





(*Em tempo! Estava cá eu a estudar trovadorismo e me ocorreu que a melhor maneira de lembrar das características dessa escola literária seria se eu compusesse algo no estilo!
Bem, então aí está uma Canção de Amigo, onde eu coloquei tudo que me vinha à memória:

~ Eu lírico Feminino
~ Iniciante nas descobertas do amor
~ Marcas fortes de oralidade (paralelismo, refrão, repetição, whatever)
~ Ambientação simples, oposta à cortês da "canção de amor"
~ Declarar a saudade do amigo (que apesar da palavra, era como se referiam aos seus amados)

sábado, 17 de abril de 2010

Estou à procura
De uma dose de loucura,
De um pouco de doçura,
Do que me ofereça a cura
Dessa vida de censura
E o fim dessa procura
Que minha essência tortura
É seu lábio que me jura,
Seu olhar que me assegura
Um amor que a eternidade dura.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Aleatório (?)

Busquei a caneta como se fosse vida
A resposta perdida
Do que eu sequer perguntei.

Procurei numa folha
A irrevogável escolha
Do que eu sequer sonhei.

Me fiz em letras.
(Fiz?
Farei?
Não sei.)

Faria.
Não fosse teus olhos,
Orbes divinos,
Luz do dia,
Perfeita alegria
Enquanto eu morria.
(uma vez mais)

(Como pôdes ser tão leviano
Quando eu te dei o que me restava de humano?
As lágrimas que eu nem sabia que tinha,
Mais que corpo, a alma minha)

Na caneta não há tinta.
É apenas sonho,
Doce quimera,
Ilusão de afagos,
Que ficarão no papel.

Teu amor? Quisera!
Acabou, entretanto,
Não há pranto,
Foi tanto...

E embora ainda
Ao deitar te sinta,
A paixão tão linda
Em poesia finda.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Que venha a morte no seu negro manto,
Que em seu árduo abraço me leve,
Que me sossegue na eternidade do seu canto,
Que já tarde finde essa vida breve.

Que onde habita meu tudo, haja nada
Que a minha consciência suma num repente
Que minha frágil alma seja rasgada
Que eu assista ao caos contente.

Prefiro a insanidade plena, tortura que não se suporta
A solidão dos becos, os lares de ninguém,
A alma letalmente ferida e o corpo também.

Que disso que vive, já seja matéria morta
Mas que eu nunca me contente com a vida vã,
Que eu nunca sorria numa felicidade sã.