sábado, 24 de janeiro de 2009

Abre os olhos e compreende
Que o que deveras sente
Já nao lhe pertence
Somente.

Cria com suas tintas mais belas
Seus grafites e aquarelas
A forma mais singela
- vive dela.

Busca dedicar-te a sua arte
Desenha sua felicidade
Lá donde não me cabe
- mata-me.

Roga sobre a vida suas pragas
Mesmo que ela não lhe satisfaça
Verdade, o dia passa
- e te aguarda.

Liberta seu olhar pra outros cantos
Que foram ofuscados pelo manto
Da sua alma em prantos
- há tanto!

Lembra-te das palavras ditas
De carinho embebidas
Há muito proferidas.
- Por que esquecidas?

Vê que amor é mais que corpo
São duas almas num todo
Sentimento louco
- Lhe é pouco?

Abre seu sorriso mais sincero
Faz do meu mundo mais belo
Vê quanto te quero
- E espero.

(para sempre...)

Em um momento rebelde.

I

Eu vou me dobrar
Até me tornar
Uma massa diminuta
Que você possa usar
Pilhar
E maltratar.

Vou bendizer seu nome
Nas esquinas onde os meus
Caem mortos de fome.

Preencher meu corpo
Com os árduos adornos
Que me fizeste comprar
E pagar
Ao derramar meu sangue.

Vou cantar a nova liberdade
Que as suas correntes me dão;
Agradecer as felicidades
nos canais da TV,
no pão que me deste
– e basta – pra sobreviver

Vou louvar os deuses
Que você me ensinou a amar
A respeitar
E obedecer
Sem ver
Só crer.

E quem sabe assim,
Quando minha alma faminta
Desistir desse corpo lustroso,
Eu possa me tornar
A peça perfeita;
O peão honorável
Daquele jogo de enganos,
De tantos mortos,
Tantos tiranos,
De sonhos perdidos,
Futuros rasgados
E corpos dilascerados.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Poema para uma menina-mulher

O som agudo
Cortou o vento
- Tudo é silêncio.

O tapa que atinge a face
Rasga a alma
E não há cura.

A vontade louca
De uma juventude arredia
Já não existe mais

A rebeldia de outrora
Foi aniquilada
Pelos laços matrimoniais.

As ordens que veemente negava
As regras que tanto contestava
Hoje são normais.

A pequena menina
Que guardava em si
O desejo de pertencer ao mundo
Hoje repousa sob um teto
Que nem sequer lhe pertence
Enquanto repreende uma lágrima solitária

Seu canto livre
Tornou-se um soluço
Que vaga perdido na madrugada gélida
Ao passo que um corpo satisfeito
De ter-se fartado no seu
Dorme sem preocupações ao seu lado

Seus anseios e sonhos
Perderam-se no vento
- tornou-se cativa a alma -
Qual pássaro selvagem
Que por suas belas cores e canto
Morre atrás das grades de uma gaiola

A posse sobre seus atos
Que tanto almejara
Está nas mãos de outrem.
Como, meu Deus,
Pode um ser humano achar
Que é dono da vida de alguém?
E que direito tem de roubar
A liberdade
que custara tanto ganhar?